Por que postamos fotos de quando éramos criança em
nosso perfil do Fecebook? Por Cristiano Bodart
Acredito que todos os usuários de
Facebook notaram a onda de uso de fotos de perfis de quando o dono da conta era
ainda criança, ou ainda de seu filho pequeno. “Certamente cada pessoa tem sua
motivação pessoal”, diriam muitas pessoas. Para a Sociologia os eventos que se
repetem entre um número significativo de indivíduos merece uma atenção maior
para serem compreendidos. A resposta de que “certamente cada pessoa tem sua
motivação pessoal” não esclarece o fato, uma vez que não trata-se de uma mera
coincidência de milhões de pessoas fazerem a mesma coisa; pelo contrário, a luz
da Sociologia é possível buscar e talvez encontrar uma regularidade existente,
assim como uma motivação para além da motivação pessoal. Tentarei levantar
alguns caminhos para reflexão sociológica.
Teriam os usuários do Facebook apenas despertado um interesse
em homenagear as crianças? Acredito que não é apenas o
princípio da homenagem o elemento motivador, haja visto que existe o dia do
idoso e nem por isso há uma onda de postagem de fotos dos seus avós. Levando em
conta a hipótese de que a motivação está muito mais relacionada a si mesmo do
que às outras crianças.
A ideia de criança, ao longo da
História, foi-se construindo até chegar ao que entendemos hoje: período de
inocência, de dependência, de despreocupação com compromissos e de pensamentos
e atitudes sinceras. É, a meu ver, essa imagem de “criança” - em contraposição
a ideia de “adulto” – que parece motivar o desejo de “vender uma imagem” à sua
rede de relacionamento
via Fecebook.
A “Consciência
Coletiva” (conceito de Durkheim) é a impulsora de tal atitude. A
ideia de que a criança é inocente, dependente de atenção, despreocupada com as
futilidades da vida e marcada por pensamentos e atitudes sinceras que motiva os
indivíduos a buscarem emitir tais valores aos amigos. Ainda que não seja uma
ação pensada racionalmente, busca-se transmitir que valoriza e/ou busca tais
princípios infantis, ao mesmo tempo que emite a mensagem de que os “adultos”
devem rever seus “passos”.
Outro elemento motivador é a
necessidade de fugir dos excessos de responsabilidades, de se “esconder” dos
males do mundo. Voltar a ser criança, ainda que no imaginário, seria voltar a
viver “tempos que não voltam”, tempos onde a amizade era desinteressada, onde
as coisas mais simples nos impressionavam, época em que o mundo nos deixava
admirados... época que sem que percebêssemos filosofávamos sobre tudo e todos,
isso independente de sua importância no mundo dos adultos.
Postar uma foto de quando éramos
crianças é uma fuga, ainda que não eficaz, do mundo dos adultos e a tentativa
de retornar no tempo em busca de princípios e perspectivas do mundo que parecem
extintos no mundo dos adultos.
Professora:
Mírian dos Santos.